segunda-feira, outubro 16, 2006

Despetização do governo e despaulistização da política nacional

Quando Lula foi eleito presidente da República, e o Partido dos Trabalhadores chegou ao poder central, o que mais se falava era que o PT não dispunha de quadros técnicos para atender à demanda da máquina estatal.
Hoje, a denúncia é contra o aparelhamento do Estado. Fala-se na urgente necessidade de se despetizar o governo.
Há cobranças também em relação à ausência da visão cosmopolita do governo.
Dizem que o governo do presidente Lula, mesmo pretendendo tornar-se uma liderança mundial, ou mesmo na América Latina, não passa de um governo com visão provinciana.
O debate entre os dois presidenciáveis, apresentado pela Rede Bandeirantes de Televisão no dia 8 de outubro de 2006, mostrou que ambos os candidatos, congênitos da paulicéia desvairada, discutiram os temas, que deveriam ser nacionais, com os umbigos presos ao circuito paulista de se fazer política.
Falar para o Brasil inteiro, em ?escolas de lata?, e resumir à discussão sobre segurança pública nacional, aos problemas e evidências relacionadas ao crescimento do PCC, me pareceram visões muito estreitas para dois políticos que se auto-imaginavam em posição de estadistas.
Lula vangloria-se de conhecer o Brasil com a palma de mão, mas o seu governo, pelo próprio aparelhamento do Estado, persiste com a visão paradigmática do paulicentro petista, pela vitalidade que o governo imprime, a partir das bases sedimentadas desde os tempos da sua liderança no ABC paulista.
Geraldo Alckmin, por sua vez, não perde o cacoete neoliberalista e privatizador, que tão apropriadamente caracterizou Fernando Henrique Cardoso e demais tucanos propagadores da hegemonia paulistana.
É possível antever alguma mudança? Não, enquanto o Brasil continuar subserviente ao Estado de São Paulo.
É preciso que surjam novas lideranças nos estados. Que a vida intelectual não se restrinja, na sua culminância doutoral, à Universidade de São Paulo.
Que o princípio federativo deixe de ser apenas uma referência textual da Constituição Brasileira, e passe a garantir a construção de uma sociedade verdadeiramente livre, justa e solidária.

SINVALDO NASCIMENTO E SOUZA - Professor e Historiador

Contatos: sinvaldo@globo.com

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