Sinvaldo do Nascimento*
Acaba de sair, pela Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, mais um belo livro do Professor Alcir Pimenta: “Raul Capello Barrozo, uma glória para Guaratiba”. Raul foi médico e político no então chamado Sertão Carioca, de 1883 a 1923. De tradicional família de políticos, nascido no Centro do Rio, ele, recém-formado, fixou-se na Pedra de Guaratiba, servindo a comunidade com muita dedicação, durante 40 anos.
É obra de inestimável valor simbólico, por falar da História e de histórias, por rememorar a vida de um vulto político de expressão nacional, desabrochado politicamente na Zona Oeste e projetado nacionalmente no transcurso do século. O autor traça o roteiro de Raul Barrozo desde os primeiros tempos e, de certa forma, promove o renascimento de uma Guaratiba dos tempos gloriosos. É quase uma revitalização, ainda que simbólica, do panorama físico-social da região, desde o povoamento, passando pelo período colonial, entrando no Império, chegando à República, sem esquecer-se de dar ênfase ao Convento dos Carmelitas, em Pedra de Guaratiba, especialmente depois que foi transformado em residência da Família Capello Barrozo, ponto de encontro da intelectualidade e da classe política, até que fosse impiedosamente demolido pela especulação imobiliária, a partir de 4 de abril de 1956.
Obra de cunho memorialístico, constitui, portanto, um tributo à memória de um homem público exemplar, que teve o desprendimento de entregar-se de corpo e alma ao exercício da vida pública, dedicando-se em especial aos menos favorecidos. É também uma homenagem a outros políticos do passado, como Júlio Cesário de Melo, Otacílio de Carvalho Camará, Felipe Cardoso, Augusto de Vasconcelos e Manoel Caldeira de Alvarenga, todos da Zona Oeste e igualmente dignos do reconhecimento do povo.
O livro retrata os aspectos mais importantes da vida e da obra política de Raul Barrozo, ali apresentado como brilhante orador por quem pode fazê-lo com mestria, o que, somado a outros atributos, o situa entre os mais eminentes porta-vozes do povo no Parlamento de então, motivo pelo qual se relacionou politicamente, e até estreitou relações de amizade, com vários Presidentes da República e outras personalidades de renome nacional, “mas nunca deixou de criticar-lhes os atos que considerou contrários ao interesse do povo,” segundo escreveu o autor em um dos capítulos.
Alcir Pimenta reúne também dados biográficos de Antônio Barroso Pereira, pai de Raul, nascido na Fazenda Modelo, em Guaratiba, homem influente, amigo do Imperador e Presidente da Ilustríssima Câmara do Rio de Janeiro, cargo equivalente ao de prefeito. Antônio Barroso Pereira foi o idealizador da Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro, tendo ainda transferido o Matadouro da Praça da Bandeira para Santa Cruz.
A paixão de Raul Barrozo por Maria Fausta Muniz Tello de Sampaio, sua ex-aluna e futura esposa, é retratada carinhosamente, com a transcrição de cartas e poemas trocados entre eles, às escondidas, graças a uma criada. Os três últimos capítulos constituem a parte emocionante do livro e se referem à morte de Raul Barrozo e Maria Fausta e à demolição do palacete onde residiam, alternando abatimento, lirismo, indignação e nostalgia, em doses bem proporcionadas. É, pois, um livro indispensável.
*Sinvaldo do Nascimento é professor de História, museólogo e mestre em Educação.
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